sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Crime Suficientemente Idiota

um grito corta aquele espécie de burburinho-que-não-é-silêncio-nem-algazarra, é um misto de atroz sofrimento e disparatados insultos. há quem logo corra para a rua e quem acabe a cerveja. 
um tipo, de ombros encolhidos e parvo olhar, baixa a cabeça ao som do marmanjo que o insulta. entre os dois está uma máquina de lavar, e sob a máquina o pé do mais exaltado. em breve meia aldeia rodeia os dois e há quem defenda que a culpa só pode ser do gajo que nem o crisma fez. alguém zigaziguando se aproxima, há em si um misto de tinto e aguardente e a queda dada em nada surpreende, não fosse o ensanguentado corpo feminino que sob ele se abate...

...úúúúú-ah-úh-ah úh-ah...úuuuu-ah úh-úh úh-úh 
          (poderá não ser assim que se escreve)

quatro senhores saem de um autoritário automóvel, estranhamente um deles não possui barriga nem bigode: não é cá da terra, comenta-se em baixo tom. contínuo acto em que todos se aproximam da autoridade para relatar os factos com a excepção do dono da tasca que não querendo perder o seu melhor investimento tenta separar o bêbado do ensanguentado e inanimado corpo. de imediato é algemado por estar a adulterar as provas e vários são aqueles que protestam perante tamanho acto. no entretanto o chefe fica com sede e o sub-chefe decide-se pela sua libertação. alguém propõe uma rodada e totalidade dos bigodes encaminha-se para a tasca.
no entretanto, a estagiária autoridade circunda o local do crime. um puto rouba um bocado da fita para colocar à cabeça, definitivamente não quer que lhe toquem no meio frasco de gel necessário para o penteado-à-rebelde-morango. ao regressarem os três indivíduos da autoridade, o presidente da junta lembra que para a semana são as festas de nossa-senhora-do-ah-e-tal e opta-se por retirar o coreto do perímetro circunscrito devido ensaio da banda filarmónica. a câmara foca dois agentes, entre o sub-chefe e a agente há um sorriso cúmplice, misto de desejo sexual e reminiscência dos tempos em que eram cadetes na academia (o que é estranho, até porque estão casados à quase década e meia).

o ecrâ fica negro e seguidamente anunciam-se minis e presuntos, publicitam-se outras minis de outras cores e marcas e um anafado senhor fala da melhor alheira de portugal, informa-se que do dia seguinte, e a seguir ao telejornal, um reputada jornalista (que tirou outro curso qualquer) vai medear um debate sobre cornflakes: já todos os comemos com leite frio ou ainda há palermas que o teimam em aquecer o leitinho.

finalmente o intervalo acaba e no entretanto a mulher já morreu (mesmo). alguém fala em chamar o médico legista mas homem mora numa cidade vizinha e não gosta de conduzir à noite. o chefe apresenta uma apreensiva expressão e uma voz off parece dizer o que pela cabeça lhe vai: m*rd*, tenho mesmo que ir à casa-de-banho e não gosto (nada) de tomar banho depois de perfumar a wc. o exame de balística é considerado desnecessário, os cartuchos são dos mesmos que estão em promoção na espingardaria da esquina e a da aldeia vizinha ficou assim para o fora de mão depois da queda da ponte. o bêbado encaminha-se para um poste de electricidade com aquela cara de quem não sabe que nem tudo o luz dá lume. alguém sugere um telefonema para o moita flores, mas ele é de uma rede diferente e tem que ir falar a qualquer matinal programa no dia seguinte. o tempo do episódio parece esgotar-se e há quem como eu desespere pela eminência do to be continued...
mas eis que um homem se aproxima e de mãos na cabeça e olhos no céu exclama: fui eu que matei a minha mulher, era para me ter entregue logo, mas tive de ir ali a um sítio.

[this is produced NOT by jerry bruckheimer]

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