hoje acordei em atroz sofrimento. tentei virar-me para esquerda e doía, experimentei para o outro lado e doía também. no entretanto espirrei e doeu a valer. ainda pensei em dizer ai, mas não tinha ninguém ao lado... num titânico esforço arrastei-me para a casa-de-banho com uma máscula atitude pontualmente interrompida por um gemer baixinho. entrei no duche e, azar dos azares, deixei cair o sabão; ao bruscamente baixar-me senti-me como que a fazer férias em guantanamo (sinceremente sempre pensei que as dores de apanhar um sabonete do chão tivessem outro motivo).
ao chegar à sala expliquei ao meu pai que estava em atroz sofrimento, ele chamou-me menino a mim e ressaca à dor e continuou a fazer o que que não estava a fazer. experimentei a técnica do repetido ai intercalado por um prolongado ui e ele foi-se embora. decidi tomar uma atitude à homem e disse-lhe que ia telefonar a minha mãe; ele disse-me que não valia a pena enquanto pegava nas chaves do carro.
o percurso foi torturoso, assim que soltei um ai na primeira rotunda, ele mudou o percurso de modo a conseguir percorrer o máximo de rotundas possíveis. só não tomei uma atitude porque estava sem saldo e a minha mãe desconhece o significado de um kolmi.
no hospital, e apesar da etiqueta amarela, fui atendido em menos de um hora (e eu que até aqueria esperar sete horas e meia só para aparecer na tvi...). a médica, essa, foi simpática e perguntou-me se tinha bebido ou caído na noite anterior; disse-lhe que sim e que não, que sim, que tinha bebido na noite anterior e que não, que não tinha caído na noite anterior embora tivesse dado um tombo na passagem de ano em virtude das botinhas novas de sola lisa e um chão de bar com mais bebida que o balcão. após o raio xis deu-se a sentença: O menino tem uma costela partida, deve ter sido da queda do ano novo e hoje ao dormir deu-lhe um mau jeito; vai-lhe doer durante umas seis semanas, tome estes medicamentos em caso de atroz sofrimento. evite fazer esforços e tente repousar o máximo possível. disse-lhe que que ficasse descansada porque na verdade tenho imenso jeito para não fazer nada.
à saída mostrei o raio xis ao meu pai e perguntei-lhe qual o melhor caminho para ir à farmácia. sete rotundas depois estávamos em casa, falei-lhe no atroz sofrimento e mencionei uns quantos ais; ele disse-em que os medicamentos são para maricas e começou a contar histórias da tropa.
e eis-me aqui agora, em atroz sofrimento e prolongada agonia na esperança que a mãmã chegue para eu recomeçar com os ais...
...oh vida, eu já sabia que era um tanto ou quanto lento de raciocínio mas ter um atraso corporal de treze dias em relação a mim mesmo é (frustrantemente) frustrante.